Um membro do conselho que esteja desconectado do Espírito, mesmo que por pouco tempo, pode causar muitos danos. Por outro lado, uma única pessoa movida pelo Espírito Santo pode ser um canal de bênçãos e fazer uma diferença substancial nas instituições educacionais adventistas do sétimo dia.1 Isso ficou claro para mim há alguns anos quando trabalhei como departamental de educação para a Greater New York Conference.
Precisávamos de uma escola adventista no leste de Long Island, Nova York, após o fechamento da escola anterior, que havia atendido famílias na área por mais de 40 anos. Estabelecemos uma pequena comissão para orar, planejar, negociar e abrir uma escola nas dependências da igreja de Babylon, onde uma pequena escola adventista havia fechado 25 anos antes, deixando para trás uma grande dívida que a igreja teve que pagar e muita dor.
Havia muitos desafios: primeiro, os membros da igreja teriam que abraçar o projeto apesar das más lembranças. Segundo, teríamos que ganhar o apoio de outras igrejas na área para que elas subsidiassem a nova escola e/ou matriculassem seus filhos. Terceiro, precisaríamos encontrar financiamento para reformar o prédio antigo e cobrir as despesas associadas à abertura de uma nova escola. Quarto, as autoridades da cidade de Babylon, que tinham uma reputação de ser muito duros, teriam que dar permissão para usar o prédio existente como uma escola. Precisávamos desesperadamente da bênção de Deus para que esse projeto se tornasse uma realidade contra todas essas probabilidades.
Depois de muita oração e deliberação, com o apoio do pastor e membros do grupo de planejamento, o projeto foi apresentado aos membros da igreja em uma reunião especial de negócios. Havia muitas perguntas e objeções legítimas e parecia que os membros estavam prontos para votar contra a proposta. Então, de repente, Deus usou a voz de um membro corajoso e dedicado que falou como Calebe e Josué2 e ajudou a convencer a igreja a avançar com o projeto. Posteriormente, esse membro respondeu ao chamado e serviu fielmente por muitos anos como presidente do conselho da nova escola dessa igreja.
Respondendo as nossas orações, Deus milagrosamente abriu todas as portas e removeu todos os obstáculos. Hoje, a escola South Bay Junior Academy ainda está fornecendo educação adventista para muitas famílias na área.
A educação adventista e o grande conflito
A educação adventista é fundamentalmente um ministério3 e um esforço espiritual. No contexto do grande conflito entre o bem e o mal, os membros do conselho deveriam ter em mente que as instituições cristãs estão primariamente estabelecidas para fazer avançar o reino de Deus: “Para restaurar em homens e mulheres a imagem de seu Criador, para trazê-los de volta à perfeição em que foram criados - esta deveria ser a obra da redenção. Este é o objeto da educação, o grande objetivo da vida.”4 Consequentemente, essa batalha não pode ser combatida exclusivamente com o poder do cérebro, recursos financeiros ou habilidades profissionais. Armas divinas são necessárias para combater batalhas espirituais. “‘Não por força nem por poder, mas pelo Meu Espírito’, diz o Senhor dos Exércitos’” (Zc 4:6).
Existem algumas pessoas religiosas que também são espirituais, mas nem todas. A religião trouxe cruzadas, inquisição, perseguição, intolerância, violência e atitudes de julgamento.
Por causa de sua posição influente e visível, os membros do conselho são alvo dos ataques do inimigo, assim como foi Simão Pedro.5 Eles precisam resistir a ele, “firmes na fé” (1Pe 5: 9), caso contrário, podem se tornar um impedimento para o progresso do trabalho de Deus. Ainda me lembro da dolorosa história de uma disputa pessoal amarga entre um influente membro do conselho e um diretor que terminou por fechar uma escola da igreja. O membro do conselho queria provar que tinha a “última palavra” e que tinha “o poder de fazer o diretor perder o emprego”. Assim, ele convenceu o eleitorado a fechar a escola. Essa história triste, mas verdadeira, ilustra o impacto deletério de um administrador orgulhoso, vingativo e egoísta.
Lou Solomon observou que “tornar-se poderoso torna as pessoas menos empáticas” e que “os fracassos de liderança mais comuns não envolvem fraude, desvios de verbas ou mesmo escândalos sexuais. É mais comum ver os líderes fracassarem na área do autogerenciamento de todos os dias - e o uso [do] poder de uma forma que seja motivada pelo ego e pelo interesse próprio.”6
A história perturbadora da implacável rainha Jezabel nos lembra que os membros do conselho são administradores e devem se manter nos mais altos padrões éticos e nunca tolerar o nepotismo ou o clientelismo. Jezabel planejou cuidadosamente a eliminação de Nabote com a intenção de apoderar-se de sua vinha para o marido (1Re 21). Da mesma forma, os membros do conselho às vezes pressionam a administração para ganhar posição, promoção ou aumentos salariais para seus parentes ou amigos.
Enquanto cumprem suas importantes responsabilidades, os líderes espirituais devem estar cientes de suas deficiências, pois “temos, porém, este tesouro em vasos de barro” (2Co 4: 7). Richard Exley com honestidade nos lembra que “o potencial para o abuso de poder está presente em cada um de nós. Frequentemente, ele é mantido sob controle, não por verdadeira humildade, mas apenas pela falta de oportunidade. Se nos for dado um pouco de poder, que o mundo fique atento!”7 Dan Allender nos convida a reconhecer nossas limitações à medida que “lideramos como hesitantes”. Ele nos chama a abandonar resolutamente reações ineficazes e prejudiciais a desafios, incluindo covardia, rigidez, narcisismo, ocultação e fatalismo, e abraçar respostas eficazes, tais como coragem, profundidade, gratidão, abertura e esperança.8 “Aqueles que controlam os outros devem primeiro aprender a se controlar. A menos que aprendam essa lição, não podem ser semelhantes a Cristo em seu trabalho. Eles devem permanecer em Cristo, falando como Ele falaria, agindo como Ele agiria, com ternura e compaixão inesgotáveis.”9
Buscando definir espiritualidade
Pesquisadores têm batalhado para definir a espiritualidade.10 Bruce Speck reconheceu que “claramente, falta uma definição consensual de espiritualidade”.11 Covrig, Ledesma e Gifford fizeram uma distinção entre espiritualidade e religião,12 mas Kenneson questionou essa abordagem.13 Joanna Crossman defendeu um “desenvolvimento espiritual secular”,14 enquanto Cadge e Konieczny notaram que a religião é algo “escondido e totalmente à vista” e deveria ser abertamente reconhecida como gênero ou raça.15 Fry e Kiger listaram valores relacionados à liderança espiritual: confiança, perdão, integridade, honestidade, coragem, humildade, bondade, compaixão, paciência, excelência e felicidade.16
Neste artigo, a religião não é igualada à espiritualidade. Existem algumas pessoas religiosas que também são espirituais, mas nem todas. A religião trouxe cruzadas, inquisição, perseguição, intolerância, violência e atitudes de julgamento. A espiritualidade apresenta amor, aceitação, paciência, coragem e perdão. Pessoas espirituais demonstram autenticidade, transcendência, conexão, autorreflexão, autocontrole, paz interior e senso de propósito. A espiritualidade está relacionada, em primeiro lugar, ao coração. Os membros do conselho que são espirituais cultivam o “fruto do Espírito”, que, segundo Paulo, “é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5:22, 23).
No entanto, mesmo pessoas autenticamente espirituais às vezes têm uma compreensão incompleta ou incorreta da verdade. Os mileritas, por exemplo, eram muito espirituais, mas acreditavam incorretamente que Jesus voltaria à Terra em 1844, quando, na verdade, Ele estava prestes a inaugurar Seu ministério no santíssimo lugar do santuário celestial.17 O conhecimento de Apolo sobre o evangelho limitava-se ao ensino que recebeu antes de ser batizado por João Batista. Ele era, no entanto, um homem muito espiritual que amava a Deus e se dedicava ao Seu serviço. Embora muito eloquente e altamente educado, foi humilde o suficiente para receber um estudo bíblico de dois artesãos, os construtores de tendas Priscila e Áquila.18
O Espírito Santo está guiando os crentes a toda a verdade, mas essa revelação é progressiva. Além disso, os crentes nem sempre estão prontos para aprender tudo o que o Senhor quer ensinar-lhes: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16:12). Jesus disse aos discípulos. “O Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas” (Jo 14:26). Uma pessoa espiritual tem uma atitude de humildade e disposição de aprender verdades mais profundas para crescer no Senhor.
Os perigos da falsa espiritualidade
A religião sem espiritualidade é censurada inúmeras vezes na Bíblia. É caracterizada pelo extremismo, por uma atitude de julgamento, um desejo de controlar outras pessoas, um espírito de vingança, arrogância, orgulho, egoísmo, discriminação, exclusão, ganância e corrupção. Paulo desprezou aqueles que têm “forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (2Tm 3:5).
A espiritualidade não se refere a assistir a cultos religiosos, observar ritos, participar de cerimônias ou até mesmo memorizar doutrinas, embora essas práticas religiosas geralmente ajudem a cultivá-la.19 Os fariseus eram observadores rigorosos da lei, mas negligenciavam “os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé” (Mt 23:23) Eles eram muito religiosos, mas estavam vazios da verdadeira comunhão com Deus. As doutrinas que haviam estudado tão bem não transformaram seu coração egoísta e orgulhoso. Paulo também abordou esse problema: “E ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1Co 13:2). Ele acrescentou em 1 Coríntios 8:1: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica”, também traduzido “o conhecimento torna-se arrogante, mas o amor se acumula”. Não é sobre o que sabemos ou quanto dinheiro temos, nem sobre como observar regras e conseguir obediência às normas - embora estas sejam importantes - trata-se, sim, de se tornar uma nova criatura, transformada de dentro para fora pelo amor de Jesus.
Saulo de Tarso estava cheio de fervor pela lei e “extremamente zeloso das tradições”20 de seus pais, mas foi preciso esse encontro com Jesus na estrada de Damasco para mudar seu coração e endireitar suas prioridades – um lembrete de que a espiritualidade autêntica cresce na presença de Deus.
A espiritualidade falsa é com frequência presunçosa. Os cristãos às vezes esperam que Deus aprove seus caminhos e os abençoe mesmo quando eles são negligentes, desobedientes ou preguiçosos. Eles afirmam que “esta é a obra de Deus e ela não pode falhar”. Jeremias advertiu os filhos de Israel: “Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr 7:4). Ellen White escreveu: “Neemias não considerou cumprido o seu dever depois de haver orado e chorado perante o Senhor. Ele uniu sua petição com os mais fervorosos, santos e piedosos esforços para o sucesso da empresa em que estava empenhado. Cuidadosa consideração e bem meditados planos são tão essenciais para o êxito de empreendimentos sagrados hoje como o foram no tempo da reconstrução dos muros de Jerusalém.”21
Administradores de escolas adventistas não podem se dar ao luxo de ser caprichosos e arbitrários. Eles não devem usar suas opiniões pessoais para recomendar disciplina para funcionários ou alunos. Algumas décadas atrás, uma diretora da escola da igreja, uma das melhores educadoras da Associação, foi sumariamente demitida pela diretoria da escola local porque pediu pizza para seus alunos. Os membros do conselho acreditavam firmemente que um “verdadeiro adventista” não poderia e não teria oferecido tal “comida não saudável” aos alunos. Em seu direito de indignação, eles votaram remover a diretora do cargo, com efeito imediato. Foi necessária a intervenção firme dos funcionários da Associação e muita sabedoria para convencer esses membros do conselho administrativo de que eles devem seguir o devido processo e que não tinham permissão para demitir por qualquer motivo um funcionário cujo trabalho foi contratado pela Associação. Os conselhos escolares recomendam rescisão ou demissão, mas apenas em consulta com a organização que contratou (neste caso, a Associação local). As políticas de rescisão estão estabelecidas em políticas denominacionais oficiais e regulamentos governamentais.22
Espiritualidade genuína produz os frutos do Espírito
Se alguém é chamado para servir como membro do conselho, é-lhe confiado um grande privilégio que vem com responsabilidades: “[…] o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4:2). José, Daniel e Neemias foram líderes espirituais de sucesso que podem ser uma inspiração para os membros do conselho. Eles eram diligentes, fiéis, honestos, corajosos e prudentes. Sua forte fé os motivou a se preparar cuidadosamente, a planejar atenciosamente e a executar com critério seus projetos. Sentiam-se convencidos de que, no que quer que estivessem fazendo, eram responsáveis “para o Senhor e não para homens” (Cl 3:23). Eles demonstraram “a sabedoria que desce lá do alto”, descrita por Tiago como “pura […] pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sem fingimento.” (Tg 3:13-18).
Os membros do conselho não podem se dar ao luxo de adotar uma atitude indiferente. Fugir à responsabilidade ou negar realidades difíceis pode ter um impacto terrível na vida de muitas pessoas e até mesmo ameaçar a viabilidade da escola. Não há espaço para complacência.
Os membros espirituais do conselho têm altas expectativas. Eles acreditam que o povo de Deus deve ser a cabeça, e não a cauda.23 Isso é especialmente importante na educação, na qual os administradores e membros do conselho exigem qualidade, eficiência, profissionalismo, honestidade, transparência, justiça e compaixão. Eles têm tolerância zero com incompetência, caos, imoralidade, mediocridade ou corrupção. Eles têm a convicção de que Deus está pronto e disposto a realizar coisas extraordinárias para Seus filhos. “Deus fará grandes coisas por aqueles que Nele confiam. A razão pela qual Seu povo professo não tem maior força, é que confiam tanto em sua própria sabedoria, e não dão ao Senhor oportunidade para revelar Seu poder em favor deles. Ele auxiliará os Seus filhos crentes em toda a emergência, se Nele puserem toda a confiança, e fielmente Lhe obedecerem.”24
Nossas expectativas elevadas devem, no entanto, ser proporcionais ao apoio e recursos disponíveis para nossos alunos e educadores. Não é razoável ter as mesmas expectativas para todos. “O lugar específico que nos é designado na vida é determinado por nossas capacidades. Nem todos atingem o mesmo desenvolvimento ou fazem com igual eficiência o mesmo trabalho. Deus não espera que o hissopo atinja as proporções do cedro, ou a oliveira a altura da majestosa palmeira. Mas cada qual deve ter o objetivo de atingir tão alto quanto a união do poder humano com o divino lhe torne possível.”25
Carga de trabalho excessiva e esgotamento prematuro são desafios crônicos no sistema adventista. Esperamos que os professores estejam disponíveis durante todo o dia letivo (geralmente sem intervalo), e também à noite e no sábado, e com frequência aos domingos também. Às vezes, os funcionários são chamados ao dever durante as férias. Os conselhos escolares devem ser intencionais ao incentivar os administradores escolares a se esforçarem para proteger o tempo pessoal dos funcionários e dar-lhes algum espaço para se renovarem e recarregarem suas baterias.
Um dos pioneiros da Igreja Adventista, o poderoso pregador Tiago White, era tão dedicado ao seu trabalho que estava sempre ocupado pregando, publicando, visitando e presidindo reuniões. Sua amada esposa, Ellen, advertiu-o de que, a menos que diminuísse o ritmo em suas numerosas atividades, sua saúde iria fracassar dramaticamente e ele poderia até perder a vida. No entanto, Tiago não estava pronto para desacelerar. Consequentemente, aos 44 anos, ele sofreu um derrame que o deixou paralisado. Quando ele melhorou alguns meses depois, voltou à sua vida ocupada. Ele ficou muito doente, novamente, aos 56 anos e morreu aos 60. Um ministério frutífero que poderia ter servido à igreja por muitos anos foi interrompido.26
Em francês, as pessoas costumam dizer “l’excés en tout nuit”, que poderia ser traduzido por: “O excesso em tudo é prejudicial.” O excesso e o extremismo são um subterfúgio muito eficaz do diabo em seus esforços para seduzir os filhos de Deus e arrastá-los do seu destino glorioso. Um dos frutos do Espírito Santo é ἐγκράτεια (egkrateia), que significa temperança, autocomedimento, autocontrole, autogoverno, força interior ou moderação.27 Essa é a virtude exemplificada pela pessoa que, através do poder do Espírito, mantém as coisas sob controle e não é levada pela paixão ou pelas circunstâncias.
O conselho que Cristo deu a Seus discípulos há 2 mil anos ainda é válido hoje: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” (Mc 6:31). Ellen White corroborou com essa mensagem em seus comentários: “Não é sábio estar sempre sob a tensão do trabalho e da agitação, mesmo em atender às necessidades espirituais dos homens; pois por essa maneira é negligenciada a piedade pessoal, ao mesmo tempo que se sobrecarregam as energias mentais, espirituais e físicas. […] cumpre-nos também consagrar tempo à meditação, à oração e ao estudo da Palavra de Deus.”28 Há tempo para trabalhar muito, mas também há tempo para relaxar e reabastecer nossas energias. Essa lição oportuna é relevante tanto para os membros do conselho quanto para os funcionários da escola.
O papel do conselho não é administrar a instituição, mas ser vigilante e dedicado à oração. Os conselhos apoiam uma cultura de prudência e asseguram que as instituições sigam as diretrizes e cumpram as normas. Como José no Egito, os membros do conselho asseguram que a provisão seja feita para dias chuvosos, recessões econômicas e desastres naturais. Eles estão preocupados em fornecer instalações saudáveis e seguras para estudantes, funcionários da escola e visitantes.
Como mordomos prudentes, os membros do conselho asseguram que a instituição não embarca em iniciativas imprudentes e grandiosas. Eles garantem que nenhum projeto prossiga sem um estudo de viabilidade e planejamento adequado. Aprovam orçamentos conservadores, mas visionários, e exigem que a instituição cumpra os regulamentos governamentais que não contradizem as instruções da Bíblia.29 Eles esperam da liderança da escola um plano estratégico detalhado, visionário e realista que seja atualizado anualmente e de cuja criação eles participem. Jesus fez a seguinte pergunta: ‘‘Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar” (Lc 14:28-30).
Uma das responsabilidades mais importantes do conselho é selecionar líderes competentes e comprometidos com a instituição. Os membros do conselho não podem se dar ao luxo de esperar que a liderança atual fique indisponível para começar a pensar em possíveis substituições. É por isso que o planejamento da sucessão é tão crucial. O conselho e a administração devem ser intencionais em cultivar a longo prazo uma variedade de opções para a liderança futura, tanto no nível do conselho como na instituição. Grandes líderes espirituais planejam sua própria sucessão: Josué estava pronto quando Moisés se foi. Elias orientou Eliseu. João Batista disse sobre Jesus: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:30). Barnabé intencionalmente preparou Saulo e João Marcos. Paulo treinou Tito e Timóteo para o ministério. Os conselhos devem fazer o mesmo para garantir a estabilidade e o crescimento constante de suas instituições, identificando sistematicamente talentos promissores e proporcionando oportunidades de crescimento para potenciais futuros líderes.
Membros espirituais do conselho
Os membros do conselho ligados ao Espírito dão as boas-vindas a todos os alunos e funcionários, com suas diferenças, considerando a todos como um presente de Deus. Eles os veem como filhos de Deus, independentemente de sua aptidão, sexo, etnia, nacionalidade ou idade. Os líderes devem ser acessíveis e percebidos como prontos e dispostos a ouvir os outros, incluindo professores, zeladores, pais e alunos. Os membros da diretoria liderados pelo Espírito promovem proativamente a equidade, o que pode significar representação e tratamento justos de todos os grupos de pessoas em todos os níveis.30 Eles apoiam a missão mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia ao tomar uma posição firme contra a discriminação e o tratamento preferencial. Eles são compassivos e protegem os membros vulneráveis da família da escola. Eles devem ser a voz dos que não têm voz, particularmente dos órfãos, viúvas, imigrantes, crianças e idosos.31
Às vezes, os conselhos precisam tomar decisões difíceis que afetarão os funcionários, os alunos, as famílias e até a igreja. Essa é uma responsabilidade sagrada que deve ser tratada com humildade e oração. Essas decisões podem ser motivadas por exigências financeiras, má conduta de funcionários, preocupações com segurança ou iniciativas governamentais.
O conselho também pode simplesmente reconhecer que os tempos mudaram e que a instituição precisa tomar uma nova direção. Os membros podem precisar tomar medidas e decisões drásticas, fazer mudanças significativas ou fazer uma limpeza completa. É aí que a integridade dos membros do conselho é testada.
Os membros do conselho não podem se dar ao luxo de adotar uma atitude indiferente. Fugir à responsabilidade ou negar realidades difíceis pode ter um impacto terrível na vida de muitas pessoas e até mesmo ameaçar a viabilidade da escola. Não há espaço para complacência. Os administradores estilo laissez-faire devem renunciar (ou ser removidos) para dar lugar a administradores responsáveis que abraçarão suas sagradas responsabilidades: “Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha?” (1Co 14: 8).32 Até a paciência de Deus tem seus limites. O mesmo humilde e gentil Jesus sabia quando era hora de purificar o templo.33 Ele entrou em ação de maneira surpreendente. Os membros do conselho que não desejam ser acusados de negligência do dever são chamados a fazer o mesmo. Scott Cowen, presidente emérito da Universidade de Tulane, deu o seguinte conselho àqueles que querem ser “administradores efetivos”: “Não tenha medo de enfrentar os costumes.” E ele acrescentou: “Para liderar com integridade, você precisa tomar decisões baseadas em princípios que respondam às realidades particulares que você enfrenta.”34
Na câmara solitária de suas almas, os administradores devem assumir o compromisso de tomar posição pelo que é certo e garantir a integridade da instituição. Nesses momentos cruciais, os membros do conselho buscam a orientação de Deus e vão “cingir os lombos” de suas mentes para “manterem-se sóbrios” (1Pe 5:8) e agir de maneira oportuna com sensibilidade, bom senso, sabedoria e determinação. “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24:45, 46).
Conclusão: “Quem é suficiente para estas coisas?”35
Por causa de suas imperfeições, os cristãos são exortados a se humilhar e rededicar o coração a Deus, gastando tempo em oração e meditação e ocultando Sua Palavra em seu coração.36 Quando os membros do conselho seguem essa admoestação, sua vibrante espiritualidade irradiará para dentro das instituições da igreja. Daniel desenvolveu o hábito de orar três vezes ao dia.37 Neemias ofereceu uma oração silenciosa na presença do rei.38 José sempre sentiu estar na presença de Deus.39 Jó oferecia um sacrifício diário por seus filhos.40 Os membros do conselho deveriam seguir esses exemplos dos gigantes espirituais e interceder diariamente por seus familiares e também pela família da escola. Somos lembrados no livro Profetas e reis que os desafios da liderança só podem ser enfrentados com oração. A autora oferece esse encorajamento para aqueles que lideram: “Jamais devem deixar de consultar a grande Fonte de toda a sabedoria. Fortalecidos e iluminados pelo Obreiro-Mestre, serão capacitados a permanecer firmes contra pecaminosas influências, e a discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal. Aprovarão o que Deus aprova, e empenhar-se-ão com todo o fervor contra a introdução de princípios errôneos em Sua causa.”41
A promessa é certa: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1: 5). Deus está pronto para fazer coisas extraordinárias para nossas instituições educacionais. Tudo depende da nossa prontidão espiritual. A admoestação de Josué aos israelitas também se aplica aos administradores: “Santificai-vos, porque amanhã o SENHOR fará maravilhas no meio de vós” (Js 3:5).
Este artigo foi revisado por pares.
Citação recomendada:
Bordes Henry Saturné, “Administração e espiritualidade: o profundo impacto da saúde espiritual dos membros do conselho nas instituições que administram,” Revista Educação Adventista 81:1 (Janeiro–Março, 2019). Disponível em https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2019.81.1.2.
NOTAS E REFERÊNCIAS
- Cada membro do conselho tem o poder de influenciar. Isso deve ser um comprometimento com Deus. Ellen G. White escreveu: “Quanto mais alta a posição que um homem ocupa, quanto maior a responsabilidade que tem de levar, mais ampla será a influência que exerce e maior sua necessidade de dependência de Deus. Deve lembrar-se sempre que, com o chamado para o trabalho, vem o chamado para andar circunspectamente perante seus companheiros. Deve ele permanecer ante Deus na atitude de um discípulo. A posição não dá santidade de caráter. É por honrar a Deus e obedecer a Seus mandamentos que o homem se torna verdadeiramente grande” (Profetas e Reis [Tatuí: CPB, 1996]:30, 31).
- Números 13:30 (ARA): “Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela.” Salvo indicação em contrário, todos os versos da Escritura neste artigo são citados da Bíblia, versão Almeida Revista e Atualizada - ARA.
- Ver George R. Knight, “Education for What? Thoughts on the Purpose and Identity of Adventist Education,” The Journal of Adventist Education (outubro-dezembro de 2016):6-12; e John Wesley Taylor V, “What Is the Special Character of an Adventist College or University?” Ibid. (janeiro-março de 2017):24-29.
- Ellen G. White, True Education: An Adaptation of Education by Ellen G. White (Nampa, Idaho: Pacific Press, 2000):11.
- Lucas 22:31, 32.
- Lou Solomon, “Becoming Powerful Makes You Less Empathetic,” Harvard Business Review (21 de abril de 2015). Disponível em: https://hbr.org/2015/04/becoming-powerful-makes-you-less-empathetic.
- Richard Exley, Perils of Power (Silver Spring, Md.: Ministerial Association, General Conference of Seventh-day Adventists, 1995):66.
- Dan Allender, Leading with a Limp: Turning your Struggles into Strengths (Colorado Springs, Colo.: WaterBrook Press, 2006):8, 9.
- Ellen G. White, “Words of Counsel,” Review and Herald 80:17 (28 de abril de 1903):7.
- David Rousseau, “A Systems Model of Spirituality,” Journal of Religion and Science, 49:2 (junho de 2014):476-508.
- Bruce W. Speck, “What Is Spirituality?” New Directions for Teaching and Learning, 2005:104 (inverno de 2005):8.
- Duane Covrig, Janet Ledesma e Gary Gifford, “Spiritual or Religious Leadership: What Do You Practice? What Should You Practice?” Journal of Applied Christian Leadership 7:1 (2013):104-113.
- Philip Kenneson, “What’s in a Name? A Brief Introduction to the ‘Spiritual but Not Religious,’” Liturgy 30: 3 (julho de 2015):3-13.
- Joanna Crossman, “Secular Spiritual Development in Education from International and Global Perspectives,” Oxford Review of Education 29:4 (dezembro de 2003):503-520.
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- Louis Fry e Mark Kriger, “Towards a Theory of Being-centered Leadership: Multiple Levels of Beings as Context for Effective Leadership,” Human Relations 62:11 (setembro de 2009):1.681.
- Ver Hebreus 9.
- Ver Atos 18:18-28.
- Ver Isaías 1:11-15.
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- Ellen G. White. Profetas e reis. Tatuí: CPB, 1996. p. 634.
- Os funcionários da educação (professores e administradores) estão sob contrato com a Associação que os empregou. Isso significa que a Associação é legalmente responsável pela contratação, rescisão ou qualquer mudança no status de emprego do pessoal da educação. Os funcionários não docentes (por exemplo, do refeitório ou zeladoria/manutenção) normalmente são contratados pela escola, tornando a administração responsável pelos termos de seu emprego. Por essa razão, os conselhos escolares locais devem consultar o Departamental de Educação da Associação local ao recomendar qualquer ação que tenha impacto no emprego dos funcionários da educação. Políticas claras relacionadas à rescisão ou demissão estão incluídas no Manual da Igreja, no Código Educacional do ensino fundamental e médio e em várias políticas de trabalho denominacional e nos regulamentos do governo. Veja também Charles McKinstry, “The Firing of Mary Mediocre: The Case for Due Process at the School Board,” The Journal of Adventist Education 70:5 (verão de 2008):16-19.
- Deuteronômio 28:13.
- White, ibid., p. 493.
- Id., Educação. Tatuí: CPB, 1996. p. 267.
- Id., Testemunhos para a Igreja. Tatuí: CPB, 2000. T1:103-105; Virgil Robinson, James White (New York: Teach Services, 2005):171-178.
- Gálatas 5:23. Ver Sam Williams, Galatians (Nashville, Tenn.: Abingdon Press, 1997):151; Gerhard Kittel, ed., Theological Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans Publishing Co., 1964):II:339-342.
- White. O Desejado de todas as nações. Tatuí: CPB, 2003. p. 362.
- Romanos 13:1-7; Atos 5:27-29.
- Isaías 56; Atos 10:34; Romanos 2:11-16; Apocalipse 7:9 e 14:6.
- Ver Atos 10:34, 35; Miqueias 6:8; Levíticos 19:20; e Deuteronômio 10:17-19.
- Os oficiais do conselho podem gentilmente pressionar os membros ineficazes, encorajando-os a levar suas responsabilidades mais a sério ou discretamente a deixar seu lugar para outra pessoa que tenha tempo, interesse e/ou habilidades para contribuir significativamente para o progresso da instituição. O estatuto e os regulamentos de algumas instituições contêm disposições que tratam das ausências excessivas dos membros do conselho ou de seu persistente fracasso em apoiar a instituição.
- Marcos 11:15-18.
- Scott Cowen, “Want to Be a Really Effective Trustee?” Higher Education Today (julho de 2012). Disponível em: https://www.higheredtoday.org/2018/07/11/want-really-effective-trustee/.
- Ver 2 Coríntios 2:14-17.
- Salmos 119:11.
- Daniel 6:10.
- Neemias 2:4.
- Gênesis 39:2-5.
- Jó 1:5.
- White. Profetas e reis. Tatuí: CPB, 1996. p. 31.