John Wesley Taylor V

A pesquisa e a busca pela verdade

A pesquisa é uma investigação sistemática, baseada na coleta e análise de informações projetadas para desenvolver ou contribuir para o conhecimento generalizado.1 Embora a pesquisa seja fundamentalmente uma busca por novos conhecimentos, esse conhecimento também deve ser confiável, um reflexo verdadeiro e preciso da realidade.2 Esta é a razão pela qual os pesquisadores procuram minimizar falsos positivos e negativos3 e por que eles tentam triangular. Consequentemente, a pesquisa é, em última análise, uma busca pela verdade, por um conhecimento confiável. Não a verdade em seu sentido absoluto, mas certamente aquelas dimensões da verdade que são acessíveis, dentro de nossas limitações humanas.

A busca pelo que é verdadeiro

No julgamento de Jesus, Pilatos fez uma pergunta fundamental: “O que é a verdade?” (Jo 18:38).4 Se fôssemos fazer essa pergunta, ou sua equivalente: “Como alguém sabe o que é verdade?” para uma seção transversal da sociedade contemporânea, encontraríamos uma série de respostas: “Tem sido assim há muito tempo”; “Todo mundo concorda”; “Parece óbvio”; “Tenho forte convicção disso”; “É razoável, com certeza”; “Tudo se encaixa”; “Ela é a especialista e certamente deve saber”; “Simplesmente funciona”.5

A pesquisa é, em última análise, uma busca pela verdade, por um conhecimento confiável. Não a verdade em seu sentido absoluto, mas certamente aquelas dimensões da verdade que são acessíveis, dentro de nossas limitações humanas.

Reconhecemos, no entanto, que cada um desses critérios para determinar a veracidade apresenta limitações inerentes. Toda tradição, por exemplo, deve ter um começo. Como a primeira pessoa sabia o que era verdade? Embora eu possa sentir muito fortemente que algo é verdadeiro, o que acontece quando duas pessoas sentem fortemente a mesma coisa sobre algo, mas de maneiras opostas?6 Embora tudo possa realmente se encaixar perfeitamente, e se alguém começar uma premissa falsa e depois garantir que cada adição resultasse numa combinação perfeita?7 Quem será a autoridade? E como essa pessoa sabe, afinal?8

Talvez possamos nos simpatizar com a situação de Thomas: “Não sabemos nada ao certo!”9 Antes de qualquer tentativa precipitada de descartar qualquer um dos critérios acima, devemos observar que cada um tem valor e pode contribuir para uma melhor compreensão da verdade.10 O ponto, no entanto, é que nenhum deles pode garantir a verdade.

E quanto à pesquisa científica?

Um dos critérios de verdade mais difundidos é o da evidência empírica.11 Essa abordagem é frequentemente expressa em declarações como: “É apoiado pela pesquisa” e “É cientificamente sólido”. A pesquisa, com sua metodologia sistemática e seus freios e contrapesos, como revisão por pares e replicação de descobertas, é certamente um dos caminhos mais promissores pelos quais podemos nos aproximar da verdade.

Seríamos ingênuos, no entanto, se também não reconhecêssemos as limitações da pesquisa, várias das quais são destacadas nas Escrituras. Será que realmente identificamos o que há lá fora, ou poderia ser que “vemos como em espelho, obscuramente” (1Co 13:12)? Será que, às vezes, as aparências podem nos enganar (1Sm 16:7)? Os dados devem ser interpretados para se tornarem significativos (ver Figura 1). É possível que as pessoas revisem os mesmos dados e, no entanto, cheguem a diferentes interpretações devido a diferenças na visão de mundo?12 Finalmente, todas as evidências estão presentes? Poderíamos saber apenas em parte (1Co 13:9-12), e esse conhecimento parcial poderia nos levar a conclusões errôneas?13

A resposta cristã

Qual, então, é a resposta? Como podemos saber o que é verdade? Lamentavelmente, o clamor da multidão distraiu Pilatos, e ele se afastou antes que Jesus pudesse responder sua pergunta. Porém, como é frequentemente o caso de Deus, Cristo havia de fato respondido à pergunta antes de ser feita, quando declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6). Assim, para o cristão, a verdade é uma pessoa. Além disso, horas antes de Seu encontro com Pilatos, Cristo havia orado: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). Na cosmovisão bíblica do mundo, portanto, a Palavra escrita ou encarnada é a verdade. Isso implica que o conhecimento da verdade é ao mesmo tempo intelectual (aprendendo sobre Deus, Suas palavras e Suas obras) e relacional (conhecendo a Cristo pessoal e experimentalmente).

Quais são as implicações dessa perspectiva para o cristão, e especialmente para quem se dedica à pesquisa? Existem vários conceitos fundamentais:

1. A verdade começa com Deus, não com a humanidade. Tiago escreveu: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes” (Tg 1:17), e João acrescentou: “A graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). Consequentemente, os seres humanos são apenas receptores da revelação da verdade de Deus. Embora possamos construir interpretações ou aplicações da verdade, nós, afinal, não criamos a verdade. Isso não significa que somos meros receptores passivos. Deus deseja que descubramos ativamente e, às vezes, recuperemos a verdade (por exemplo, Jo 5:39; Jó 12:7; Pv 2:4, 5).

2. Já que a verdade reside em Deus e Deus não muda, a verdade é estável. A Bíblia fala do “Deus da verdade” (Is 65:16) e afirma que “a verdade é em Jesus” (Ef 4:21).14 Também afirma que Deus é eterno e imutável, com afirmações como: “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90:2) e “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3:6).15 Como resultado, a verdade de Deus é constante, como Davi confirmou: “A verdade do Senhor dura para sempre” (Sl 117: 2, ACRF).16 Isso implica que os princípios da verdade de Deus são generalizáveis através do tempo, lugar e situação.17 A imutabilidade e a transferibilidade da verdade não sugerem, contudo, que a compreensão humana da verdade não pode se desenvolver ao longo do tempo. Davi, por exemplo, ficou profundamente perturbado com o sofrimento dos justos e a aparente prosperidade dos iníquos.18 Somente quando ele entrou no santuário e refletiu sobre seu significado, foi capaz de vislumbrar a imagem maior da verdade de Deus.19

3. Toda verdade possui unidade porque vem da mesma fonte. Observamos que a coerência não pode estabelecer a verdade, pois podemos começar com uma suposição falsa. Assim, nem tudo o que é consistente é verdadeiro. No entanto, o que é verdade é internamente consistente, e a verdade estará em harmonia consigo mesma onde e quando for encontrada. Consequentemente, as descobertas da pesquisa devem evidenciar um bom ajuste com outros exemplos de verdade. Se parece haver contradição, há erro – em termos do que acabamos de descobrir ou talvez no que antes considerávamos verdade. Como alternativa, ambas as declarações podem ser verdadeiras (ou, potencialmente, ambas falsas), com a aparente contradição denotando um problema com nosso entendimento finito e servindo como um apelo para mais estudos e reflexões.20

4. A verdade é infinita porque Deus é infinito. Por sermos finitos, nunca compreenderemos ou esgotaremos totalmente a extensão da verdade de Deus. As fronteiras do nosso entendimento também são os horizontes da nossa ignorância. Visualmente, nosso círculo de conhecimento é cercado pelo vasto universo daquilo que não sabemos ou, muito menos, entendemos. Nosso único contato com esse universo, no entanto, está na circunferência de nosso círculo (ver Figura 2).21 Quando o círculo de conhecimento é pequeno, a circunferência também é pequena e podemos ser levados a acreditar que existem apenas algumas poucas coisas que ainda não sabemos. À medida que a área do círculo cresce através do aprendizado e da pesquisa, também aumenta a circunferência e bem como nossos pontos de contato com o desconhecido. Consequentemente, quanto mais aprendemos, mais percebemos o quanto ainda há para aprender e mais humildes devemos nos tornar.

5. Devemos crescer continuamente em nosso conhecimento e entendimento da verdade. Não é suficiente permanecer ancorado na verdade. De acordo com as Escrituras, devemos andar na verdade (2Jo 4; 3Jo 3 e 4). O ato de caminhar denota movimento e progresso. Quão presunçoso seria, então, qualquer pessoa nessa jornada declarar ou agir como se possuísse toda a verdade! Um cristão nunca possuirá toda a verdade. Afinal, a verdade de Deus é infinita, e somos finitos. No entanto, através de estudo, pesquisa e experiência, com a colaboração de outros caçadores da verdade e com orientação divina, a proporção de erros deve começar a diminuir a fim de que, em última análise, tudo o que o cristão possui seja verdade.

6. Como Deus é a Fonte de toda verdade, toda verdade é a verdade de Deus.22 Se algo é verdadeiro (mesmo que seja a verdade sobre a mentira),23 é uma extensão da verdade de Deus, e devemos reconhecer essa conexão. Na perspectiva cristã, este é um objetivo central da pesquisa e da educação: destacar o vínculo entre a verdade descoberta e sua Fonte. Embora reconheçamos que toda verdade é uma manifestação da verdade suprema de Deus, também devemos reconhecer que os cristãos não têm o monopólio da verdade. Os não crentes também descobrem verdades. “Porque ele [Deus] faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuvas sobre justos e injustos” (Mt 5:45, NVI),24 porque Ele quer que todos “cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2:4). Portanto, não devemos nos surpreender se agnósticos ou ateus descobrirem importantes facetas da verdade de Deus. E qual a diferença entre o cristão e o não cristão? Enquanto o não cristão pode encontrar a verdade em sua jornada pela vida, o cristão reconhece e valoriza a Fonte dessa verdade.

Obtendo conhecimento confiável

A pergunta “Como obtemos a verdade?” é particularmente relevante no contexto da pesquisa. Fundamentalmente, somos capazes de descobrir a verdade porque Deus toma a iniciativa, compartilhando fatos e princípios conosco. A revelação divina é o canal através do qual Deus revela a verdade aos seres humanos.25 Contudo, razão, pesquisa e reflexão desempenham um papel fundamental, enquanto a fé é parte integrante de todo o processo (ver Figura 3).26 Nossos poderes de raciocínio, bem como a capacidade de conduzir pesquisas e refletir sobre conhecimento e experiência são dons de Deus que nos permitem descobrir e entender a verdade. A fé, por sua vez, é um compromisso sério e sincero com a manifestação da verdade de Deus.

Há um problema, no entanto. Paulo fala daqueles “que mudaram a verdade de Deus em mentira” (Rm 1:25). Embora a verdade de Deus não possa ser destruída, ela pode, de fato, ser distorcida. Quando um objeto é visto através de uma lente distorcida, nossa percepção desse objeto é deformada, embora o próprio objeto não tenha mudado. Como ocorre essa deturpação da verdade? Há pelo menos duas possibilidades: pode resultar da manipulação direta de Satanás da verdade de Deus (At 16:16-18)27; e, talvez mais sutilmente, pela nossa aceitação de uma visão secular do mundo (2Co 4:4), que deixa Deus fora da equação. O resultado em ambos os casos são conclusões falsas a respeito da revelação da verdade de Deus (ver Figura 4).

Isso é trágico. Deus compartilha fatos e princípios com a humanidade, mas os seres humanos às vezes chegam a conclusões falsas. Existe um remédio? A boa notícia é que Deus é novamente proativo. Ele fornece o “Espírito da Verdade”, que nos guiará “a toda a verdade” (Jo 16:13).28 É papel do Espírito Santo desviar as tentativas de distorção da verdade de Satanás e resgatar-nos das falsas suposições de uma visão de mundo secular. Como resultado, somos habilitados a chegar a conclusões corretas a respeito de Deus e Sua Verdade (ver Figura 5). O profeta Isaías escreveu: “vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do Senhor arvorará contra ele a sua bandeira” (Is 59:19, ACRF). Consequentemente, é essencial que um cristão convide o Espírito Santo para ser seu parceiro na pesquisa.

Há uma salvaguarda adicional, no entanto, e essa é a triangulação dos crentes. Embora as pesquisas de popularidade não determinem a verdade, “toda questão precisa ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas” (2Co 13:1, NVI).29 Quando os primeiros cristãos precisavam decidir quais assuntos eram essenciais, eles se ajuntavam, discutiam e oravam e, sob a orientação do Espírito, chegavam a uma conclusão (At 15:1-31). Na pesquisa, é igualmente necessário que as descobertas sejam replicadas, que as perspectivas sejam trianguladas e que, por meio de interações humildes, surja um consenso entre aqueles que estão comprometidos com a cosmovisão bíblica.

Pensamentos finais

A pesquisa é uma busca focada e sistemática pela verdade, por conhecimento e compreensão confiáveis. A verdade, por sua vez, nada perde com um exame cuidadoso, uma investigação cuidadosa.30 Além disso, tanto a razão quanto a fé podem ser fortalecidas pelo escrutínio da pesquisa e refinadas no crisol da análise empírica.

Por outro lado, devemos reconhecer que a pesquisa tem limitações inerentes e que nem mesmo uma aplicação cuidadosa da investigação científica é uma garantia da verdade. Embora nos esforcemos para salvaguardar a veracidade de nossas conclusões, reconhecemos que não podemos chegar à certeza com base em dados empíricos. Nunca podemos afirmar: “A pesquisa provou isso...” ou “a ciência verificou isso...”. Antes, devemos falar em termos de evidência que “testificamos a verdade” (Jo 18:37; ver também 3Jo 1:12).

Cada um de nós deve, portanto, ser exemplo de autenticidade e humildade. Isso inclui reconhecer os limites de nosso conhecimento, ser honesto sobre nossas deficiências e expressar a hesitação de nossas conclusões. Isso implica abertura à correção e uma paixão pelo crescimento contínuo. Sugere que, como estudiosos crentes, devemos nos unir sob a orientação do Espírito para construir uma comunidade dinâmica baseada na Palavra em busca da verdade.

Cada um de nós deve, portanto, ser exemplo de autenticidade e humildade. Isso inclui reconhecer os limites de nosso conhecimento, ser honesto sobre nossas deficiências e expressar a hesitação de nossas conclusões. Isso implica abertura à correção e uma paixão pelo crescimento contínuo. Sugere que, como estudiosos crentes, devemos nos unir sob a orientação do Espírito para construir uma comunidade dinâmica baseada na Palavra em busca da verdade.

Como pesquisadores cristãos, devemos interagir diretamente com os repositórios da verdade revelados pelas Escrituras, na pessoa de Jesus Cristo, e pela criação, em cada uma de suas dimensões. Acima de tudo, devemos comunicar fé à confiabilidade da divina revelação da verdade, “tanto mais confirmada a palavra” (2Pe 1:19), em que fazemos bem em prestar atenção. Há uma questão final. Paulo escreve: “e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2:10). Não basta saber a verdade. Nós devemos amar a verdade. O que significa amar a verdade? Amar a verdade é viver a verdade. Mostramos que amamos a verdade incorporando-a ao tecido de nossa vida.

O resultado? “A verdade vos libertará” (Jo 8:32). Não precisamos tanto de liberdade para descobrir a verdade como devemos residir na verdade de Deus para experimentar progressivamente a liberdade do erro, de suposições falsas e de interpretações equivocadas. A verdade, de fato, oferece a única liberdade.

No final da história da Terra, Deus proclama: “Abri as portas, para que entre nelas a nação justa, que observa a verdade” (Is 26:2, ACRF). Portanto, a verdade importa.


Este artigo foi revisado por pares.

John Wesley Taylor V

John Wesley Taylor V, PhD, EdD, é diretor associado do Departamento de Educação da Associação Geral, em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos. Ele pode ser contatado em [email protected]

Citação recomendada:

John Wesley Taylor V, “A pesquisa e a busca pela verdade,” Revista Educação Adventista 81:4 (outubro-dezembro de 2019). Disponível em: ______.

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Código de Regulamentos Federais 5 CFR 46.102 (d), adaptado (2009). Disponível em: http://ori.hhs.gov/education/products/sdsu/research.htm. A investigação indica que procuramos responder perguntas, enquanto a sistemática especifica que abordamos o processo de pesquisa de maneira intencional e organizada, usando a abordagem científica, que geralmente inclui uma sequência de fases: fazer observações iniciais, definir o problema, formular a pergunta, investigar o conhecido, articular uma expectativa, coletar e analisar dados, interpretar os resultados, particularmente em referência à expectativa, refletindo sobre as descobertas e depois comunicando as descobertas à comunidade científica bem como à sociedade em geral. O objetivo do conhecimento aponta para o fato de que esperamos descrever, entender ou explicar algo, enquanto o aspecto generalizável sugere que gostaríamos que nossas descobertas tivessem significado além do imediato, informando outros cenários. (Na pesquisa qualitativa, a terminologia mais comum é a transferibilidade.)
  2. Isso destaca a relação entre epistemologia e metafísica. Para o cristão, no entanto, a realidade assume uma dimensão adicional, buscando entender a realidade como Deus a vê. Nesse sentido, a verdade também pode ser vista como fidelidade ao padrão da verdade suprema, os aspectos que Deus nos transmitiu (veja, por exemplo, 2Pe 1:19-21 e Ap 1:1 e 2). A utilização de um padrão, com sua correspondente qualidade de ajuste, ressalta a inter-relação entre epistemologia e axiologia.
  3. Também conhecidos como erros do tipo I e II no teste estatístico de hipóteses. Um exemplo de um “falso positivo” (erro do tipo I) seria um resultado de laboratório que indica que um paciente tem uma determinada doença quando na realidade não possui a doença. Por outro lado, um “falso negativo” (erro tipo II) seria um resultado de laboratório que indica que um paciente não tem a doença, quando, na verdade, ele tem.
  4. Salvo indicação em contrário, todas as passagens bíblicas deste artigo são citadas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA).
  5. Muitas dessas expressões são representativas de várias teorias da verdade, como Consenso (“todos concordam”), Construtivista (“tem sido minha experiência”), Coerência (“combina perfeitamente”) e Pragmático (“funciona”).
  6. A emoção também pode degenerar em mera realização de desejos: “Isso simplesmente deve ser verdade porque eu gosto/quero que seja.” Devemos reconhecer, no entanto, que a emoção desempenha um papel vital em nossa vida. Se aceitarmos que a verdade é relacional, ela deve incluir componentes emotivos. Antonio Damasio, no livro Descartes’ Error: Emotion, Reason, and the Human Brain [Erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano] (Nova York: Avon Books, 1994), propõe, de fato, que o cérebro humano não permite uma investigação racional sem envolver os centros emocionais do cérebro.
  7. Além disso, é possível forçar a evidência? Com golpes persistentes, poderíamos metaforicamente fazer passar um pino quadrado através de um buraco redondo?
  8. Da mesma forma, podemos reconhecer limitações em outras posições.Popularidade: a maioria está sempre certa? Houve um tempo em que todos com exceção de oito pessoas acreditaram que nunca poderia chover (1Pe 3:20). Em outro momento, quase todo mundo acreditava na geração espontânea, até Luis Pasteur (1822-1895) realizar seus experimentos demonstrando que a vida só pode vir da vida. Se confiássemos nas pesquisas de opinião para confirmar a verdade, correríamos o risco de seguir os caprichos das massas ou do grupo que faz mais barulho. Instinto: Thomas Jefferson, como principal autor da Declaração de Independência dos Estados Unidos, escreveu que “todos os homens são criados iguais” (1776) e chamou essa ideia de “autoevidente”. O conceito, no entanto, não era evidente da mesma maneira ao rei George, da Inglaterra, ou aos amigos de Jefferson que eram proprietários de escravos, ou mesmo ao próprio Jefferson, também um proprietário de escravos. Um problema mais profundo com a abordagem “siga seu coração” é que Jeremias descreve nosso coração como enganoso e naturalmente inclinado ao erro (Jr 17:9). Como, então, nossos instintos poderiam ser um guia infalível? Pragmatismo: Algo pode realmente funcionar bem, mas é necessariamente correto apenas porque funciona? Embora a publicidade enganosa possa ser eficaz, pelo menos em termos de vendas de curto prazo, isso não a torna aceitável. Lógica: em um silogismo, a veracidade da conclusão depende da veracidade das premissas, que geralmente são difíceis, se não impossíveis, de testar. Sem garantia de que nossas suposições sejam verdadeiras, a lógica pode se tornar uma maneira de dar errado com confiança. Por outro lado, apenas porque algo não parece lógico (talvez porque não entendamos), isso não impede que seja verdade. As Escrituras, por exemplo, apresentam afirmações que parecem desafiar a lógica humana: “Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 12:10). “Não tendo nada, mas possuindo tudo” (2Co 6:10). “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Mc 8:35).
  9. “Então Tomé perguntou: Senhor, nós não sabemos aonde é que o senhor vai. Como podemos saber o caminho?” (Jo 14:5) (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
  10.   A Bíblia, por exemplo, fala positivamente sobre vários destes critérios: tradição: “Pergunte às gerações anteriores e veja o que seus pais aprenderam” (Jó 8:8, NVI); popularidade: “Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança” (Pv 11:14, ARA; também 15:22); lógica: “Ele [Jesus], porém, lhes respondeu: chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?” (Mt 16: 2,3 ARA; também, 10:29, 31 e At 18:4); coerência: “Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (At 17:11, ARA).
  11. Nesta abordagem por Correspondência ou Teoria Empírica, asserções da verdade são comparadas com evidências da realidade, pelo menos como a percebemos. Em uma pesquisa realizada em 2009 com filósofos professores e filósofos doutores, por exemplo, 48,9% dos 1.803 entrevistados aceitaram ou se inclinaram para a Teoria da Correspondência, em oposição a 23% para a Deflacionária, 10% para a Epistêmica e 17,2% para outras teorias da verdade (Disponível em: https://philpapers.org/surveys/results.pl).
  12. Números 13 e 14 descrevem uma situação em que 12 pessoas revisaram a mesma evidência, mas duas chegaram a uma conclusão bem diferente das outras 10.
  13. Karl Popper, um dos grandes filósofos da ciência no século XX, argumentou que a prova só pode ser reivindicada se um experimento for repetido um número infinito de vezes em todas as circunstâncias possíveis. Em The Logic of Scientific Discovery (Londres: Routledge, 1992), p. 32, Popper afirma: “O jogo da ciência é, em princípio, sem fim. Quem decide um dia que as declarações científicas não exigem mais testes e que podem ser consideradas como completamente verificadas retira-se do jogo.” Veja também a discussão de Popper sobre cisnes brancos e cisnes negros nas páginas 33 e 83. Disponível em: http://sf-walker.org.uk/pubsebooks/pdfs/popper-logic-scientific-discovery.pdf. A conclusão é que a certeza de qualquer proposição é simplesmente inatingível a partir da perspectiva humana. Os pesquisadores falam assim em termos de possibilidades e probabilidades.
  14. Ver Êxodo 34:6; Deuteronômio 32:4; Salmo 31:5; 25:10.
  15. Além disso, Hebreus 13:8. Entretanto, devemos ser cautelosos ao afirmar a imutabilidade de Deus para que não O vejamos como alguém trancado no infinito, indiferente às circunstâncias que podemos experimentar. Antes, Deus Se compadece “de nossas fraquezas” (Hb 4:15). Embora possa ser difícil para nós compreendermos, a imutabilidade de Deus e Sua iminência são coexistentes.
  16. Consequentemente, os seres humanos não podem destruir a verdade. Só podemos optar por aceitar ou rejeitar a verdade de Deus. O fato de a verdade não poder ser destruída também sugere que aqueles que a aceitaram não precisam mudar para o modo de crise simplesmente porque a verdade foi atacada (ACRF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel).
  17. Por exemplo, o Salmo 100:5 afirma que a verdade de Deus “dura de geração em geração” (ACRF). Isso não significa que a aplicação da verdade não possa variar dependendo do contexto, mas sim que a verdade, em seu princípio, é universal. Se visitássemos a Ásia, por exemplo, seria de se esperar que tirássemos os sapatos antes de entrar em um lugar sagrado. Em alguns outros lugares, no entanto, a remoção de sapatos em um culto na igreja seria considerada imprópria. Qual posição está correta? Ambas são expressões contextualizadas do mesmo princípio – a saber, que se deve mostrar reverência a Deus. Da mesma forma, a pesquisa pode ajudar a identificar teorias abrangentes, mas a aplicação desses princípios, como visto nas descobertas de um estudo, pode sugerir variação dependendo do tempo, local e população.
  18. “Em só refletir para entender isso”, escreveu Davi, “achei mui pesada tarefa para mim” (Sl 73:16).
  19. Da mesma forma, quando o profeta Daniel recebeu a visão dos 2.300 dias até que o santuário fosse purificado (Dn 8:14), ele ficou profundamente perturbado. “Eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias [...] Espantava-me com a visão, e não havia quem a entendesse” (8:27). Investigando outros períodos nas Escrituras, ele encontrou o período de 70 anos de cativeiro judaico predito pelo profeta Jeremias (9:1-3). Isso trouxe maior consternação, pois parecia que o período de cativeiro deveria ser bastante prolongado (com base no princípio dia/ano), e isso levou à oração de Daniel pelo arrependimento corporativo (9:4-19). Em resposta a essa oração, o anjo Gabriel, que havia falado dos 2.300 dias, voltou e disse: “Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido [...] considera, pois, a coisa e entende a visão” (9:22, 23, ARA). Então Gabriel novamente falou de períodos de tempo. Resumindo, há a evidência de que a compreensão humana da verdade pode ser progressiva.
  20. Tome, por exemplo, a crença de que a Terra é o centro do universo. O modelo geocêntrico era a explicação dominante do cosmos em muitas civilizações antigas, se não na maioria, e foi defendido por Platão, Aristóteles e Ptolomeu, entre outros. Copérnico forneceu o primeiro desafio sério ao modelo centrado na Terra quando publicou seu trabalho Sobre as revoluções das esferas celestes, em 1543, propondo que os planetas, incluindo a Terra, girassem em torno do Sol. Os cristãos, em geral, aceitaram o modelo geocêntrico predominante e sustentaram essa posição com certas passagens bíblicas (por exemplo, Js 10:12, 13; Hc 3:11, 12; Sl 19:4-6; Ec 1:5). De fato, quando a teoria copernicana foi proposta, argumentou-se que essa visão contradizia as Escrituras, ou mais precisamente a interpretação errônea construída das Escrituras (ver Barry Brundell, “O novo ateísmo: alguma pré-história”, Bússola 47:4 (verão de 2013): 30-35).
  21. Além das incógnitas que tocam a circunferência do nosso círculo de conhecimento, nem sabemos o que não sabemos!
  22. O conceito de que “toda verdade é a verdade de Deus” foi observado por Frank Gaebelein em The Pattern of God’s Truth: The Integration of Faith and Learning [O padrão da verdade de Deus: a integração da fé e do ensino] (Chicago: Moody Press, 1954) e defendido por Arthur Holmes em All Truth Is God’s Truth [Toda verdade é a verdade de Deus] (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1977). Agostinho, no entanto, já havia apoiado essa ideia em sua obra On Christian Doctrine [Sobre a doutrina cristã] (Whitefish, Mont.: Kessinger Publishing, LLC, 2010), cap. 18): “Todo cristão bom e verdadeiro entenda que, onde quer que a verdade possa ser encontrada, ela pertence ao seu Mestre.”
  23. As afirmações bíblicas sobre o engano e a deturpação são primeiramente expressas no contexto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2:16 e 17; 3: 4) e culminam com a destruição de Satanás, o arquienganador (Ap 20:3).
  24. A Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada.
  25.  A revelação divina inclui revelação especial (as Escrituras) e revelação geral (obras criadas por Deus). Consequentemente, tanto as Escrituras quanto a criação (incluindo seres humanos) são caminhos intencionalmente usados por Deus para comunicar a verdade (veja, por exemplo, a discussão de revelações gerais e especiais no Salmo 19). Devemos notar, no entanto, que o principal objetivo da revelação de Deus através da natureza era transmitir conhecimento sobre Si mesmo e Seu plano para a criação. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19:1; Sl 97:6; At 14:15-17). Deus colocou evidência suficiente em Suas obras criadas para que qualquer pessoa, independentemente de treinamento ou experiência, possa adquirir o entendimento essencial de Deus: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebido por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1:20).
  26. Anselmo, na obra Proslógio, declara: “Eu procuro não entender para que possa acreditar; mas acredito para que eu possa entender. Por isso também acredito, a saber, que, a menos que acredite, não entenderei” (Biblioteca Sacra, 8:537). Consequentemente, todas as pessoas vivem pela fé, independentemente de sua visão de mundo, pois sempre existem premissas fundamentais que não podem ser testadas pela razão, pesquisa ou reflexão ao ponto da certeza. A questão, em última análise, é em que ou em quem colocaremos nossa fé.
  27. A afirmação da garota escrava: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16:17) era verdade. Por que, então, Paulo proferiu sua repreensão? Simplesmente porque o diabo estava tentando distorcer a verdade de Deus. Os habitantes de Filipos conheciam bem essa mulher: “a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores” (v. 16). Como a mulher parecia conhecer esses estranhos e estava prestando serviço de marketing gratuito “por muitos dias” (v. 18), as pessoas podiam concluir falsamente que pertenciam ao mesmo empreendimento.
  28. Veja 1 João 5:6 e 1 Coríntios 2:6-16.
  29. Veja também Provérbios 15:22 e 2 Pedro 1:20.
  30. Ellen G. White, Counsels to Writers and Editors (Nashville: Southern Publ. Assn., 1946) p. 35.